Patrícia Camargo

Patrícia Camargo - Formação em Psicanálise Clínica com o Prof. Wilson Cerqueira, do Centro de Estudos em Psicanálise Clínica, filiado à Associação Brasileira de Psicanalistas Clínicos (ABPC). Atualmente faz Pós Graduação em Psicologia Junguiana no IJEP - Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa em São Paulo.

Realiza atendimentos como Psicanalista Clínica em Sorocaba e Campinas e também online.

Também trabalha há mais de 10 anos com Coaching de Vida e é especialista em Coaching Afetivo. É conciliadora da Justiça Federal e autora dos blogs Coaching & Psicanálise e Psicanálise Sorocaba.

Por que fazer Psicanálise ?
Porque em algum momento de nossas vidas sofremos traumas, sentimos mágoas, culpas, frustrações, perdemos o rumo, nos desconhecemos, buscamos ser melhores do que somos e sabemos que podemos ir além.

Geralmente, as pessoas não têm consciência das diversas causas que determinam seus comportamentos e suas emoções. Estas causas estão em nosso inconsciente, e através de um Processo Psicanalítico, é possível compreendermos por que agimos como agimos e como podemos ser pessoas melhores, mais equilibradas e conscientes de nossos atos e escolhas.

Através do método da Individuação desenvolvido por Jung, paciente e analista buscam juntos a resolução dos conflitos mediante sua re-significação, possibilitando a ampliação da consciência do paciente. Com a interpretação do material trazido pelo paciente, o Processo Psicanalítico possibilita o surgimento de novos caminhos e novas possibilidades para que o paciente tenha uma vida plena e feliz.

Contatos pelo e-mail psicanalise@patriciacamargo.com.br ou pelos celulares (15) 9 9855-2277 / (19) 9 9739-4019 (What´s app)


Link da matéria da TV Tem (Afiliada da Rede Globo em Sorocaba) em que Patrícia Camargo é entrevistada sobre como realizar seus sonhos :



quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Sobre a vida


“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida” – assim disse Vinícius de Moraes. Assim mesmo é a vida : encontramos tantas pessoas, nos desencontramos de tantas outras....

A cada encontro temos sempre a oportunidade de convívio, aprendizado, crescimento. Conviver com as diferenças dos outros nos torna mais maduros, empáticos, humanos, tolerantes... “Seria tão bom se todos fossem como nós” é o que dizem por aí. Acho que não... as diferenças são tão boas para nos darmos conta dos encantamentos da vida. Como seria o mundo se todos gostassem da mesma cor ? Não é o arco íris que dá graça à vida ?

Existem desencontros de espaço, tempo, desejos, sonhos.... existem desencontros de perdas, de ausências, de morte.... Tudo isto faz parte da vida, nos faz chorar, relembrar, recordar....

Existem desencontros depois de encontros... o que aprendi com o outro ? O que ele aprendeu comigo ? “Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós” – disse Saint-Exupéry.

2016 levou muita gente embora. Muitos artistas, pessoas queridas, pessoas próximas, pessoas importantes e significativas que deixaram sua marca. Pessoas que ficam em nossos corações, que são nossa referência, muitas vezes nosso norte. Que nos amaram acima de tudo. Que talvez não souberam amar, mas tentaram....

Ouvi uma história que diz que uma pessoa só morre quando a última pessoa que pode se lembrar dela também morre. Será mesmo ? Podemos escolher como queremos viver e as lembranças que queremos deixar. Uma pessoa pode deixar sua marca em sua conduta, em suas reflexões, em seus exemplos, em sua obra. Muitos e muitos anos depois podemos ainda falar dela, sem ao menos a termos conhecido.

Sócrates disse : “Uma vida que não é examinada, não merece ser vivida”. Que possamos viver nossa vida com alegria, reflexão, coragem, sabedoria, gratidão, aprendizado. Que possamos deixar para os que nos seguem, um exemplo de amor e de luta por um nobre ideal.



sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Feliz Natal ! Excelente Ano Novo !


Feliz Natal !  Excelente Ano Novo !

Que no seu coração você possa recordar com amor as despedidas de sua vida
Que estas despedidas não lhe impeçam de celebrar seus grandes encontros

Que você possa celebrar este Natal ao lado das pessoas que ama e que te amam

Que o Ano Novo lhe traga novos encontros e novos desafios
Que as despedidas lhe tragam aprendizado e gratidão

Feliz Natal ! E um Ano Novo cheio de esperanças e alegrias !

Com muito carinho,
Patrícia Camargo
Coach & Psicanalista Clínica
www.patriciacamargo.com.br
www.coachingepsicanalise.com.br

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Reflexões sobre o ano que se encerra


É muito comum fazermos uma reflexão sobre a nossa vida a cada ano que se encerra. Alguns também aproveitam cada aniversário para este mesmo fim : refletir sobre mais um ano, onde erramos, onde acertamos, o que poderíamos melhorar, o que faríamos de diferente....

Alguns se viram em situações difíceis financeiramente, ou porque ficaram desempregados ou porque se viram obrigados a reduzir seus gastos e assim baixar seu padrão de vida. Outros tiveram problemas de saúde e lutam com bravura para superar um momento tão delicado. Uns se casaram, outros se separaram. Uns iniciaram novas carreiras, novos estudos, buscaram novas oportunidades. Outros mudaram de cidade, talvez de país. E outros deixaram as coisas exatamente como estão.

Cada ano que se encerra representa mais um aprendizado, por vezes mais doloroso do que poderíamos supor, mas ainda assim, uma oportunidade de nos aperfeiçoarmos, de sermos melhores, seja profissionalmente ou no trato com as pessoas ao nosso redor. Seja ao cuidarmos de nossa família ou ao cuidarmos de nós mesmos desenvolvendo hábitos saudáveis como exercícios, boa alimentação ou meditação.

Cada ano que se inicia representa um novo ciclo. Renovamos nossas esperanças de que tudo poderá melhorar, de que podemos dar e oferecer o nosso melhor, de que temos potencial para irmos muito mais além do que o habitual, testando nossos limites quando nos convém ou quando somos forçosamente convidados pela vida.

O resultado de cada ano vivido é amadurecimento, experiência, sabedoria. Mas também pode ser mais acomodação, mais teimosia, mais inflexibilidade. Depende do exercício de consciência de cada um. Depende do que nos propomos a fazer. Escolhemos viver ou existir ?

Viver é tomar as rédeas de nossas vidas, buscar nossos sonhos, estarmos conscientes de que para cada ato haverá uma consequência, seja positiva ou negativa. As escolhas nos propiciam amadurecimento, até mesmo pelo simples fato de que se escolhemos A, tivemos que abrir mão de B.
Existir é simplesmente ir levando a vida. A célebre frase : “Deixe como está para ver como é que fica” é típica de quem existe e só cumpre tabela de acordar mais um dia e cumprir as mesmas obrigações, seja no trabalho, seja com a família ou com as pessoas do seu convívio.

A escolha entre viver ou existir cabe a cada um de nós. Se neste ano que se encerra você chegar à conclusão de que existiu muito mais do que viveu, saiba que o novo ano que se inicia poderá lhe trazer uma nova oportunidade : a de viver. 

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

A diferença entre estar sozinho e a solidão


Existe uma grande diferença entre estar sozinho e se sentir sozinho. Você pode gostar de ficar sozinho e apreciar sua própria companhia. Mas você pode também estar sozinho e se sentir muito solitário, trise. E isto ser desagradável para você.

Quando estamos sozinhos e apreciamos nossa própria companhia, podemos dizer que nos bastamos, que não dependemos de ninguém para ser feliz. Apreciamos uma caminhada, a leitura de um livro, uma ida ao cinema e nos sentimos bem, porque gostamos de nossa própria companhia.

Mas podemos também desenvolver todas estas atividades sem companhia e sentirmos uma profunda solidão. Porque solidão é sentimento, não é escolha. É falta, é ausência, chega até a doer, pois neste caso não acontece por uma escolha própria e muitas vezes pode demonstrar a consequência de nossos atos.

Vejo velhos solitários que são desprezados pelos filhos. O que foi que eles plantaram durante a vida para merecerem este fim ? Beberam, bateram na mulher ? Ou foram condescendentes com os filhos, a pontos destes não se importarem com seus pais na velhice ?

Por outro lado, vejo pessoas sozinhas e felizes. Curtem a vida, vão pra academia, fazem refeições e passeiam sozinhas, não se importam de estarem sós porque não sentem solidão, estão na companhia de si próprias.

Existem pessoas que se realizam através das redes sociais. Lá vestem a máscara da felicidade, passam a imagem de que tudo está bem mas no fundo estão numa solidão enorme ! Aparentam ser o que não são e sofrem, julgando que todos são mais felizes do que si próprio. 

O homem vive em sociedade, em comunhão. Aos poucos, vai entendendo seus limites no convívio com as outras pessoas e também delimitando seu espaço. Conviver, ser aceito, ser reconhecido, ser amado por seus pares, é algo que todos ansiamos. Mas quando nos gostamos, somos independentes, não colocamos a felicidade fora de nós e sim a trazemos dentro do nosso coração. Aprendemos a apreciar a vida, as pessoas, o convívio. Entendemos que as adversidades e momentos tristes fazem parte da vida, mas que o mais importante é estarmos bem internamente.  

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

O copo está meio cheio ou meio vazio ?


Vivemos em sociedade. Pessoas diferentes convivendo em casa, no trabalho, nas ruas, em locais públicos. Pessoas com diferentes opiniões, prioridades, valores, temperamentos, comportamentos. Conviver é de fato uma arte.

Olhando a pequena célula que é a família, vemos como já neste pequeno espaço existem divergências. Um gosta de acordar tarde, outro acorda cedo. Um é sedentário, o outro é esportista. Um é estudioso, o outro leva os estudos como pode.... Um é econômico, o outro vive endividado. Podem ser pais, filhos, cônjuges, irmãos... somos diferentes, as diferenças sempre existirão.
Podemos olhar este espaço e prever que os conflitos existirão. Podemos imaginar atritos, brigas, rancores, mágoas... Mas podemos também desenvolver um outro olhar e perceber como nesta pequena célula que é a família, existe uma grande oportunidade de aprimoramento pessoal.

Com os pais, aprendemos a respeitar a autoridade, a ouvir os mais velhos porque certamente têm mais experiência de vida do que nós. Podemos olhar nossos irmãos com a consciência de que devemos e podemos dividir tudo o que temos. Que podemos democraticamente escolher o programa na TV que todos vão assistir juntos. Ou podemos optar pela individualidade, em que cada um se isola no seu quarto, no seu mundo, no seu tablet, micro ou celular e interage muito mais com as pessoas de fora do que com as pessoas de casa. 

O pessimista olhará o copo que tem metade de água e dirá que ele está meio vazio. O otimista olhará o mesmo copo e dirá que ele está meio cheio. Podemos olhar nossa família como um lugar de conflito, mas também podemos olhar como um lugar de aprendizado.

Podemos desenvolver a humildade quando estamos errados e assim nos desculparmos. Ou podemos desenvolver a arrogância e a individualidade quando somos contrariados e nos isolarmos do convívio em nossa própria casa.

Muito do que vivenciamos ali levamos conosco quando fomos para a faculdade e tivemos que dividir moradia com outras pessoas que nem conhecíamos ainda, ou quando constituímos nossa própria família, ou quando estamos em nosso trabalho, amadurecendo nossas relações com nossos colegas de trabalho e com nossa chefia.

A oportunidade do aprendizado é dada a todos. Cada um escolhe como quer enxergar seu copo de água. 


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Você é teimoso ou perseverante ?


Em entrevistas de emprego é muito comum o entrevistador perguntar ao candidato quais são suas principais qualidades. Muitas vezes observarmos os candidatos se descreverem como pessoas perseverantes, que não desistem facilmente de suas idéias, pessoas que acreditam que estão indo pelo melhor caminho e portanto, pessoas perseverantes.

Podemos dizer que o oposto do perseverante seria o desistente, aquela pessoa que logo desiste de projetos que havia se proposto a seguir. Mas existe também o conceito de teimoso, que é muitas vezes confundido com o de perseverante.

Uma pessoa teimosa também não desiste de suas idéias, também acredita que está seguindo pelo melhor caminho. Então, por que temos o entendimento de que a perseverança é uma virtude e que a teimosia não é uma qualidade ?

A linha divisória é simples e tênue. Ambos não desistem e estão dispostos a seguir seus projetos. Mas enquanto o perseverante é aberto a novas idéias, fazendo ajustes em sua caminhada, escutando a opinião das pessoas e se adequando a novos rumos se necessário, o teimoso é alguém fechado, que tem certeza que sabe qual é o melhor caminho e por isto não ouve o que dizem ao se redor. Não se adequa, se necessário. Não está aberto para ouvir novas idéias ou diferentes pontos de vista. E por conta disto, sofre mais.

Se um perseverante insistir num caminho e no decorrer do processo perceber que não chegará no lugar desejado, ele pode simplesmente redefinir seu trajeto, ponderar sobre seus erros, questionar se tomou as melhores decisões e ter humildade para mudar se necessário.

O teimoso não : jamais refaz seus planos, duvida que alguém saiba mais do que ele sobre o que se propôs a fazer e não tem humildade suficiente para dar o braço a torcer, para fazer um exercício de consciência e dizer “errei, esta não foi a melhor escolha ou a melhor decisão”. O orgulho e a vaidade o impedem de assumir seu erro ou de corrigir seu trajeto.

Quando estiver em sua caminhada e ela estiver árdua, lhe exigir paciência, ou se você estiver batendo muito de frente com as pessoas, faça uma análise de qual postura você está seguindo. Se a da teimosia ou da perseverança. Faça distinções de pessoas que são confiáveis e pessoas que são invejosas, pessoas que têm conhecimento do que estão lhe aconselhando de pessoas que apenas desejam palpitar em sua vida porque já estão suficientemente insatisfeitas com suas próprias vidas. Perceba que dar o braço a torcer é um ato nobre, que requer apenas humildade, e que poderá lhe propiciar um ganho muito maior quando você finalmente chegar aonde deseja. 


quinta-feira, 10 de novembro de 2016

“Conhecer a si mesmo é a verdadeira sabedoria”



No nosso dia a dia, por muitas vezes tomamos atitudes ou nos comportamos de uma maneira em que nós próprios nos desconhecemos. Às vezes somos grosseiros e agressivos sem necessidade. Outras vezes agimos por impulso e depois nos arrependemos. Podemos também sermos mais pacíficos do que gostaríamos, afinal engolir sapo virou algo corriqueiro, ainda que extremamente danoso. E a partir destas atitudes percebemos que não temos o controle da situação como gostaríamos.

Disse LaoTsé : “Conhecer a si mesmo é a verdadeira sabedoria”. Porque quando nos conhecemos, nenhuma atitude é impensada ou ocorre por impulso. Quando nos conhecemos, agimos ao invés de reagirmos. Sabemos ser assertivos ao invés de agressivos, sabemos pensar antes de agir e podemos também nos recusar a engolir mais um sapo e assim anularmos o ciclo vicioso de culpas e mágoas que existe dentro de nós.

Ao nos conhecermos, desenvolvemos a inteligência emocional. Não nos deixamos abalar por qualquer coisa, conseguimos fazer a distinção entre juízo de valor e juízo de razão. Enquanto no juízo de valor nos baseamos no nosso próprio ponto de vista em nossos julgamentos, no juízo de razão conseguimos fazer um julgamento mais isento da situação, uma vez que conseguimos analisar a situação “saindo da cena”, ou seja, olhando para a questão sem levar em conta o nosso emocional e sim, o problema real.

Posso, por exemplo, achar que uma pessoa é folgada porque não está trabalhando e está acomodada em casa, ao analisar a questão pelo juízo de valor. Mas posso também analisar a questão sob o ponto de vista conjuntural, em que o Brasil está passando por uma crise econômica e tem mais de 10 milhões de desempregados com dificuldade para se recolocar no mercado. Ao analisar sob a ótica do juízo de razão, posso me aproximar desta pessoa, oferecer ajuda, constatar que a própria pessoa tem feito seus contatos, enviado seus currículos e não está parada apenas esperando a crise passar.

Ao nos conhecermos, podemos fazer este próprio juízo de razão conosco. Por que certa pessoa nos incomoda ? Por que não aceitamos opiniões diferentes das nossas ? Por que temos mágoa e rancor das pessoas ? Por que nos acomodamos na vida ? E assim por diante, respondendo tantas e tantas perguntas que nos levam ao auto conhecimento, desenvolvendo então, a SABEDORIA.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Não terceirize a educação dos seus filhos


Aprendemos desde crianças a sermos crianças educadas, obedientes, comportadas. Que devemos ouvir os adultos, estudar, respeitar o professor, não zombar dos outros. E eis que me deparo com uma matéria sobre a terceirização da educação dos filhos. O que seria isso ?

Em palavras simples, delegar a educação dos seus filhos para outras pessoas. Vejo a todo instante adultos que desejam ser pais, mas que não fazem a mínima reflexão sobre esta escolha. Isto quer dizer que não querem dedicar seu tempo aos seus filhos, querem apenas se dedicar a si mesmos. E assim, terceirizam a educação dos filhos para a babá, escola, para os avós.... ou para ninguém.

Evidentemente que existem situações em que os pais precisam trabalhar e de fato têm menor convívio com seus filhos. Mas me preocupo muito mais com o tempo de qualidade do que a quantidade de tempo dedicada aos filhos. E na terceirização da educação, não há nem tempo de qualidade e nem de quantidade para a família. 

Ir a restaurantes e me deparar com uma família inteira sem conversar, cada um focado em seu celular, já virou rotina. Pais que carregam tablets para que seus filhos se comportem à mesa. Neste caso, terceirizaram a educação dos pequenos para os desenhos e jogos, quanto mais coloridos e barulhentos, melhor.

Estas crianças estão crescendo sem referência de certo e errado, ou com referência incongruente, em que o pai diz algo mas a mãe discorda. Ou discorda dos avós, ou da escola, ou da empregada... mas nunca discorda do próprio filho. Pais que nunca têm olhos suficientemente abertos para verem que os filhos estão crescendo sem parâmetros, sem limites, sem respeito. 

Por serem mimados e prontamente atendidos pelos pais – que carregam uma culpa imensa por não darem a devida atenção aos filhos – as pessoas estão cada vez mais individualistas. Não conseguem refletir sobre as diferenças da vida, sobre a tolerância para com os menos favorecidos ou sobre o respeito que todos merecem. A vontade deles deve ser atendida e ponto final.

Adler disse uma frase marcante que reflete bem o que estamos vivendo, convivendo com psicopatas e sociopatas, que podem estar ao seu lado e você ainda nem percebeu : “É o indivíduo que não está interessado no seu semelhante quem tem as maiores dificuldades na vida e causa os maiores males aos outros. É entre tais indivíduos que se verificam todos os fracassos humanos."

A partir desta reflexão, proponho que você olhe para o seu lado. Para seu colega de trabalho que pode estar passando por alguma dificuldade, para seu filho que vive trancado no quarto, para seu cônjuge que se esconde na frente da televisão todas as noites para não ter que enfrentar os problemas da família.

Doe um pouco do seu tempo, do seu afeto – talvez do seu dinheiro – da sua atenção, para as pessoas ao seu redor. Tenha um ouvido atento, uma sensibilidade apurada, ofereça um ombro amigo a quem precisa, um abraço apertado a quem merece. O presente maior será seu !

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Podemos deixar de sofrer por amor ?


Muito já se disse sobre o amor. Atendo em meu consultório semanalmente pessoas que querem resolver suas questões amorosas. Umas sofrem por não ter seu amor correspondido, outras se lamentam por que ainda não encontraram o amor e outras ainda vivem grandes crises em seu relacionamento afetivo.

Como já disse o grande Camões : 

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor? 

O amor nos torna vivos ! Quando amamos, buscamos dar o nosso melhor. Quando nos frustramos no amor, parece que muita coisa ao nosso redor não dá certo, e nos perguntamos “ por que o amor não dá certo em minha vida ?”

O amor foi dividido em 3 tipos : Ágape, Eros e Philos. É muito interessante analisarmos cada um deles.

O amor Ágape é o amor de Deus para com seus filhos, portanto, um amor incondicional. Independente do que façamos ou da maneira como agimos, Deus sempre nos amará, pois seu amor não tem condições ou pré-requisitos, ele apenas nos AMA. Analisando esta premissa, sentimos que somos aceitos de qualquer forma pelo que verdadeiramente somos, com nossos defeitos, nossas qualidades, nossas limitações, nossas intenções. Este é o amor de Deus, portanto, superior a cada um de nós.

O Eros é o amor ligado a parte sensual e sexual.  Está ligado às nossas paixões, às atrações físicas, pois é um amor carnal. É impulsionado pelo prazer e pela conquista. Está ligado á nossa sexualidade, ao prazer, ao encontro físico com o outro, que pode tomar dimensões maiores do que somente a dimensão erótica, caso exista juntamente com o amor Philos.

O amor Philos é o amor baseado na amizade, no respeito ao próximo, na confiança, na nossa vida em sociedade. Se faço um bem ao próximo, estou fazendo a mim mesmo, assim como se lhe faço mal, este mal também é direcionado a mim.  Alguns povos da África utilizam a expressão Ubuntu para designar a relação do indivíduo e sua comunidade, através da consciência de que o que é bom para um, é bom para todos, uma linda expressão do amor Philos.

Não somos perfeitos, mas podemos dar nosso melhor. E isto quer dizer que, tendo a consciência de que existe um amor maior de Deus para com seus filhos, de você para com sua comunidade, sua família e com as pessoas do seu convívio, e de você com seu parceiro, podemos unir todos estes sentimentos num sentimento de respeito e União.

A partir desta conscientização, aceito não brigar com meu amado porque a briga só nos levará à discórdia. Aceito nossas diferenças, coloco limites, busco o diálogo, porque sei que nosso convívio serve para nosso aprimoramento pessoal. Abro minha mente para questões maiores do que somente meus problemas individuais, pois reconheço que meus problemas não são os piores do mundo e que posso optar por ajudar ao meu próximo, sabendo que estarei, automaticamente, ajudando a mim mesmo ! 

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Criando filhos independentes


Estudando Winnicott, famoso pediatra e psicanalista infantil, entendemos o conceito da “mãe suficientemente boa”. Espera-se desta mãe exatamente o que estas palavras expressam : que ela não seja ótima, a ponto de atender todas as solicitações do bebê mas que também não seja indiferente ao que a criança solicita, portanto, que seja suficientemente boa e atenta ao seu filho.

Os primeiros anos de vida e todo nosso desenvolvimento na infância moldam o adulto que seremos. Se fomos imediatamente atendidos, teremos grande chance de sermos mimados, de termos baixa tendência às frustrações, uma vez que tudo nos foi dado de imediato. Se não fomos atendidos, podemos desenvolver um grande carência e insegurança, uma vez que o atendimento de nossas necessidades foi custoso.

Encontrar este equilíbrio é uma tarefa importante dos pais, que a partir deste desenvolvimento, serão capazes de criar filhos independentes. Filhos que aceitam limites mas que não se acomodam em ir atrás dos seus sonhos. Filhos que têm iniciativa, que têm segurança em sua caminhada e que sabem que se falharem, terão o apoio dos pais e o amadurecimento desejável quando nos frustramos e não atingimos nossos objetivos.

Cabe aos pais darem limites aos seus filhos. A forma é muito importante : com amor, carinho, mas assertivamente, sem receios, firmes no propósito de construírem filhos de valioso caráter. 

A partir das restrições e do amparo familiar, os filhos vão se desenvolvendo. Se não foram mimados, podem se permitir arriscar e ousar na vida, sempre com prudência, pois foi assim que aprenderam com seus pais.

Se foram mimados, provavelmente vão aguardar que as oportunidades caiam do céu, que o mundo saiba reconhecer como são especiais e como devem, por isto, ser atendidos de imediato. Qualquer frustração será um problema para eles, serão dependentes emocionais de aplauso e reconhecimento pelo pouco que fazem, uma vez que pouco fazem porque esperam que o mundo os reconheça e lhes dê tudo de graça.

Se você como filho se enquadrou em algumas destas situações, pense em como sempre é tempo de dar novas direções à sua vida. Pense como sempre é tempo de ser um bom pai ou uma boa mãe. 

Perceba que os filhos pedem por limites, porque os limites também expressam amor e cuidado dos pais em relação aos filhos. E através deles, criaremos filhos independentes, de grande bravura e caráter, que possivelmente ensinarão aos seus filhos, estes mesmos valores, criando assim um ciclo virtuoso.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Lidando com as diferenças no casamento


Atendo muitos casais nestes anos de trabalho e percebo que muitas vezes o que lhes falta é um ajuste em relação às suas diferenças. Vejo casais que se gostam e querem partilhar a vida juntos, mas que por verem a vida de formas diferentes, vivem em conflito e após anos de brigas chegam à conclusão de que o melhor para eles é a separação.

Seria bom que as pessoas que se casam tivessem em mente que um casamento nada mais é do que unir duas pessoas diferentes com suas diferenças. Isto quer dizer que para um bom convívio, ajustes serão necessários. Que cada um terá que ceder um pouco, pois num casamento não é mais possível que só a vontade de um prevaleça.

Com a chegada dos filhos, mais ajustes serão necessários, pois estamos falando da educação de um ser. Eles devem chegar num acordo quanto a esta educação e evitar atrito perante os pequenos. Pois o atrito lhes deixa marcas, medos, gera insegurança e confusão em cabecinhas tão pequenas que estão aprendendo com os pais o que é certo e o que é errado.

Já que as diferenças existem e são inevitáveis, há de se pensar que o melhor caminho para a conciliação e o consenso no casamento seja através dos valores. Vocês podem ter escolhas profissionais diferentes, um vir de uma família mais pobre e outro de uma família mais rica. Podem vir de famílias grandes ou pequenas, podem estar em fases diferentes em que um prioriza a carreira enquanto o outro prioriza as finanças. Mas quanto mais afinados seus valores estiverem, maiores as chances de resolverem seus conflitos e superarem os atritos e as diferenças.

Se um gosta de balada e o outro é caseiro, é possível conciliar ? Se um é mais comunicativo e gosta de encontrar os amigos e o outro é mais introspectivo e não quer ver ninguém, dá pra conciliar ? Se um quer dinheiro a todo custo e faz horas extras intermináveis enquanto o outro prioriza a família, é possível conciliar ?

Muitas outras perguntas podem ser feitas neste sentido, mas é importante ter em mente que as diferenças podem ser decorrentes da fase vivida e não serem permanentes. Numa situação de desemprego, é evidente que a economia do dinheiro e o corte de supérfluos são mais necessários do que numa época em que as finanças estão em dia. Mas e se não for uma fase ? E se um for sempre mesquinho e outro um grande mão aberta, é possível este convívio sem atrito ?

Ao pensar no seu casamento, analise com quais diferenças é possível você conviver e lidar. Admire os pontos positivos do seu cônjuge, lembre-se do que fez você se apaixonar por ele. São questões simples e de grande reflexão, que podem lhe ajudar nas soluções dos conflitos e das suas diferenças. 

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Não mudamos o passado, mas mudamos nosso sentimento em relação a ele


Uma criança foi ridicularizada e inferiorizada na infância, cresceu ouvindo que “tudo o que você faz está errado” e que “você não presta pra nada”.  Uma outra criança cresceu sendo valorizada, amada, ouvindo sempre “como você é inteligente !” e tantos outros elogios. Obviamente sabemos que a partir destas experiências, provavelmente teremos adultos com visões diferentes a seu respeito.

A primeira criança, ao crescer, poderá ser um adulto inseguro, que se deprecia e acha que faz tudo errado. Pode ser alguém com medo de tomar iniciativas porque acredita que nada do que faz dá certo. Esta criança inferiorizada que se expressa com insegurança anos mais tarde, poderá não desenvolver todo seu potencial, simplesmente porque não acredita – e ninguém a incentivou a isso – que será capaz de grandes realizações.

A segunda criança terá maiores chances de ser um adulto bem sucedido, confiante, seguro. Poderá ser mais ousado, demonstrará pró-atividade e não terá medo de arriscar e errar, pois entende que erros e tropeços fazem parte da vida, e não que ele é uma pessoa incapaz.

A criança insegura e inferiorizada poderá crescer e olhar para seu passado com compreensão, poderá analisar quem foram as pessoas que tanto a depreciaram e entender que elas não a incentivaram porque não sabiam como fazê-lo, ou porque talvez também não tenham sido encorajadas por ninguém a desenvolver seu potencial. E que - sem esta análise dos fatos - este ciclo poderá se repetir indefinidamente.

Será prudente para o adulto que foi uma criança segura e auto confiante, fazer uma análise sobre sua vida e buscar ser justo com as pessoas, tentar evitar a arrogância e a prepotência que podem andar consigo a partir de suas vivências anteriores.

Em ambos os casos, a mensagem é a mesma : não podemos mudar nosso passado, mas podemos mudar nosso sentimento em relação a ele. Este já é um grande passo para sermos pessoas mais leves, mais justas, mais resolvidas e mais felizes.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

A importância dos pais em nossas vidas


Muitas pessoas não se dão conta de quanto os pais são importantes em nossas vidas. Uma amiga querida comentou, ao dar a luz e ter a incumbência de criar seu primeiro filho, que não fazia idéia de como era importante o papel dela e do marido no crescimento e na educação daquele ser tão indefeso. 

Os pais são nosso primeiro contato com o mundo. Através deles recebemos as provisões básicas de segurança, mas sabemos que um alimento não é só um alimento. Um banho não é só um banho, um agasalho não é só para nos aquecer. Ao alimentarmos, banharmos ou agasalharmos um filho, estamos também lhe dando muito afeto.

Com o crescimento do bebê, ele começa a se perceber no mundo e assim surgem suas necessidades de reconhecimento : “Cadê o filhote do papai ? Cadê a coisa fofa da mamãe ?”. Esta troca é muito importante, a comunicação entre pais e filhos, que não é só verbal, e também vem carregada de muito afeto.

Ao crescermos e evoluirmos, vamos fazendo nossas escolhas, vamos introjetando valores, aprendendo o certo e o errado, sentindo o agradável e o desagradável, nos identificando com as pessoas ao nosso redor.

Mas e se a criança for privada da presença dos pais por algum motivo ? Neste caso, ela escolherá entre as pessoas de seu convívio, quem fará o papel da figura masculina e da figura feminina em sua vida. Sentirá afeto por estas pessoas, procurará construir laços e seguir sua vida adiante.

Por isto os primeiros anos de nossa vida são tão importantes :  porque estamos reconhecendo o mundo, desenvolvendo sentimentos, valores, desejos... E levaremos este aprendizado para o resto de nossas vidas, reproduzindo em nossas relações o que vivenciamos quando crianças.

Aí ressalto novamente a figura dos pais e a importância deles para o nosso desenvolvimento. Somos muito influenciados por eles, aprendemos com eles o certo e o errado, a maneira de nos comunicarmos, comportamentos, ausências, excessos... coisas nem sempre agradáveis que para uma vida plena e feliz, deverão ser elaboradas e compreendidas.

Todas as crianças merecem nosso amor, nosso afeto, nossa atenção, seja em nosso papel de pais, tios, educadores, avós, vizinhos, etc... A relação desta criança com o mundo será mais sadia se ela se sentir segura e amada. E assim, ela ajudará a construir uma sociedade melhor para todos nós. 

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Pulsão de Vida e Pulsão de Morte


Melanie Klein foi uma grande psicanalista que estudou prioritariamente a vida dos bebês e das crianças. São dela os conceitos de pulsão de vida e pulsão de morte, formados a partir da observação de bebês.

Existem bebês que nascem alegres, estão sempre dispostos, sorrindo, choram somente em situações extremadas como fome, frio e sono, por exemplo, e na maioria do tempo podemos dizer que estão em paz consigo mesmos.

Outros bebês nascem inquietos, nada lhes agrada, choram por tudo, parecem sempre incomodados e por vezes deprimidos. Estão sempre insatisfeitos, grosseiramente podemos dizer que são infelizes, que nada lhes agrada.

Estas observações são muito importantes porque foram feitas em bebês recém nascidos, que não têm ainda grandes vivências ou experiências, mas que revelam o quanto é inato no bebê uma  pré disposição para a vida ou para a morte.

Para Freud, a pulsão de vida se expressa por nossas ligações amorosas, seja com pessoas, coisas ou sistemas. Já a pulsão de morte se se expressa por nossa agressividade, direcionada tanto para nós mesmos quanto para os outros. 

Quando um bebê cresce e se torna criança, notamos em seu comportamento a predominância de alegria ou tristeza, satisfação ou insatisfação, amor ou agressividade, e reconhecemos então se naquela criança, a maior expressão é a de pulsão de vida ou de morte.

Num Processo Psicanalítico, o conhecimento desta relação do bebê e da criança com o mundo é fundamental para a compreensão daquele ser. Em muitos aspectos de nossa vida, reproduzimos o que para nós é predominante, a pulsão de vida ou de morte. E expressamos esta relação na maneira como lidamos com as adversidades. 

Ao compreendermos nosso funcionamento, estamos dando o primeiro passo para uma evolução. Apesar de certa predominância de pulsão de vida ou de morte em nossas vivências, sempre podemos optar pelo caminho que seguimos, podemos elaborar o que vivemos e compreender o que podemos fazer para uma vida mais plena e feliz. Não podemos mudar nosso passado, mas a todo instante, podemos mudar nosso sentimento em relação a ele. 

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

O exemplo da superação




Quem estava acompanhando a cerimônia de abertura das Paralimpíadas viu e duvido que não tenha se emocionado.  Foram vários momentos marcantes, mas gostaria de destacar dois, que considero os mais significativos.

Maestro João Carlos Martins tocando o Hino Nacional foi de arrepiar. Quem o conhece e sabe de sua história, tem ciência de que para o Maestro a vida não tem sido fácil, mas que isto não foi o empecilho para que ele não fizesse com o limão que a vida lhe deu, uma deliciosa limonada !

Na revezamento da Tocha Olímpica em sua fase final, já dentro do Maracanã, também foi impossível não se emocionar com a ex-atleta Márcia Malsar, que durante seu percurso, se desequilibrou e caiu. Márcia tem paralisia cerebral e carregou a tocha debaixo de chuva e com a ajuda de uma bengala. A queda não foi suficiente para contê-la : ao cair, o público se levantou e a aplaudiu de pé, incentivando-a a concluir seu trajeto até entregar a tocha à próxima responsável.

Márcia representou o Brasil nos Jogos Paralímpicos de 1984 e 1988, tendo sido a primeira atleta paralímpica do país a conquistar uma medalha de ouro no atletismo, na prova dos 200m rasos. Um feito e tanto e um orgulho nacional !

Estas duas histórias são inspiradoras e demonstram apenas a ponta do iceberg do que de fato representam todos os atletas paraolímpicos ali presentes. Ser atleta no Brasil não é tarefa fácil. Ser atleta paraolímpico beira o impossível. Mas se torna possível pela garra e determinação de cada atleta, que traz uma história de adversidade e superação consigo.

Da próxima vez que você for desistir de algo, inspire-se nestes dois exemplos ou nos exemplos dos atletas presentes nesta Paralimpíada brasileira que vai ficar pra história em nossos corações e que já nos deixou marcas emocionais profundas. Basta ter um bom coração para saber apreciar e comemorar com todos eles por cada batalha vencida ! 

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

A importância do perdão


Todos sabem que o perdão é importante em nossa vida mas poucos conseguem de fato praticá-lo. Não é mesmo uma tarefa fácil. Naturalmente nos cobramos e também cobramos dos outros, atitudes e comportamentos. Muitas vezes agimos da uma maneira diferente da que gostaríamos. Por agirmos assim, colhemos arrependimento e é este arrependimento que irá nos acompanhar em nossa vida até que possamos exercer o perdão.

O perdão é algo que concedemos – ao outro e a nós mesmos. Frequentemente entendemos que para o outro merecer nosso perdão, ou fazemos um exercício de humildade e admitimos nosso erro, ou esperamos que o outro faça um exercício de humildade e admita seu erro, para que possamos perdoá-lo. Mas se precisamos que o outro nos peça perdão para perdoá-lo, será que estamos genuinamente prontos para lhe oferecer o perdão ? Na verdade, se estamos de fato prontos para perdoar o outro, pouco importa se ele pediu ou não pelo seu perdão.

E quando acontece conosco, quando devemos nos conceder o auto perdão ? Também não é diferente. Pode até ser mais fácil nos perdoarmos por algo que fizemos e admitirmos o erro. Mas será que conseguimos nos perdoar por algo que não entendemos como erro mas que de alguma forma gerou uma consequência ruim para alguém ? Também neste caso, pouco importa se erramos conscientemente ou se erramos mesmo que fosse na intenção de acertar. Merecemos nosso auto perdão simplesmente porque sabemos de alguma forma, mesmo que inconscientemente, que agimos de forma errada.

Como certo e errado são questões relativas, quero chamar a atenção para a essência da questão : devemos tanto perdoar os outros como nos perdoarmos constantemente, independente das causas e consequências. E isto se deve ao simples fato de sermos falíveis. Se não somos perfeitos, naturalmente cometeremos erros, provavelmente magoaremos alguém e infelizmente também nos sentiremos magoados. 

Faça do perdão um exercício diário em sua vida. Conceda perdão aos outros e a você mesmo ! Você terá uma vida mais plena e especialmente mais leve ! Irá desenvolver a empatia e poderá finalmente compreender que todos nós cometemos erros, especialmente nós mesmos. 

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Lidando com nossas frustrações


Olhando no dicionário, a definição de frustração é : “o estado de um indivíduo quando impedido por outrem ou por si mesmo de atingir a satisfação de uma exigência pulsional”. De maneira simplista, podemos dizer que frustração é um sentimento que ocorre quando ansiamos por algo e este algo não acontece.

Geralmente nos frustramos por que desejávamos algo e não conseguimos. A frustração é maior quanto mais lutamos por aquilo. Algumas vezes era algo que só dependia de nós mesmos, outras vezes dependíamos de outras pessoas para conseguirmos aquilo.

Vejo filhos frustrados com seus pais simplesmente porque percebem que os pais não os conhecem, estão tão envolvidos com seus problemas e sua rotina que a atenção para os filhos é mínima, e tudo o que eles desejavam simplesmente era atenção. Vejo pais frustrados com seus filhos porque estes não seguiram a carreira desejada por eles. Vejo chefes, empregados, médicos, pacientes, todos frustrados, porque não alcançaram o que desejavam.

E o que podemos aprender com nossas frustrações ? Primeiro, elas nos ensinam a sermos perseverantes.  Porque só nos frustramos se desejamos muito algo e este algo não se realizou. Mas dificilmente nos frustramos por algo que não lutamos pra conseguir. Pode ser que fiquemos tristes, mas pouco frustrados se não fizemos nossa parte para a conquista daquilo. Por isto, independente do resultado, quando frustrados, podemos nos reconhecer mais perseverantes por termos nos proposto a algo e termos lutado por aquilo.

Ao percebermos que aquela “não conquista” não nos derrubou, nos vemos mais fortes também. Porque por mais que não tenhamos alcançado o que desejávamos, sabemos que não vamos desistir. Pode ser que desistamos de lutar por um objetivo A, mas sabemos que logo lutaremos pelo objetivo B. Muitas vezes é na frustração que nos damos conta da nossa força interior para enfrentarmos as adversidades. 

Mas podemos aprender algo ainda mais precioso com as nossas frustrações : o perdão. Muitas vezes nosso sonho foi frustrado por alguém – e está aí uma ótima oportunidade para exercitarmos o perdão. Outras vezes reconhecemos que a falha foi nossa, então só nos restar o auto perdão, sermos brandos e compreensivos conosco, infelizmente não foi desta vez..... 

Quando temos que conviver com algo que não gostamos, temos oportunidade de exercitarmos a paciência, como numa relação em que você espera uma atitude do outro, e ele faz o oposto. Se ele continua agindo daquela forma, exercitamos a tolerância. Se nos damos conta de que o outro não irá mudar, exercitamos a resignação, pois cabe o respeito às pessoas que não agem como gostaríamos, seja por teimosia delas ou por nossa própria teimosia.

Neste caso, aparece o perdão como único modo de conviver com aquela pessoa. Perdão e compreensão, aceitação, ao constatarmos que infelizmente o outro não é como gostaríamos, mas o fator desta união é maior do que esta divergência. Então, em nome de tantas outras afinidades, nos resignamos e perdoamos. E temos assim, mais uma oportunidade de exercitarmos nossa empatia, ao invés de cultivarmos mais uma frustração.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Dificuldade de cortar vínculos


Algumas pessoas têm dificuldades em cortar seus vínculos. Em alguns casos, são filhos que não conseguem cortar vínculos com seus pais. Crescem naquele ambiente familiar, recebem todas as provisões que necessitam para se tornarem pessoas adultas e saudáveis, mas quando se vêem independentes financeiramente, não conseguem romper o vínculo emocional com seus pais e não saem de casa.

Dentro deste perfil, também encontramos pessoas que não desenvolvem sua independência financeira, não estudam, não trabalham e desta forma – além da dependência emocional que possuem – também não conseguem desfazer o vínculo com seus pais também por que a independência financeira não foi alcançada.

Em outros casos, pessoas possessivas e ciumentas não conseguem romper seus vínculos afetivos com cônjuges ou namorados quando a relação chega ao fim. São pessoas que fazem da vida do outro um inferno e têm grande dificuldade de seguirem adiante com suas vidas sem a presença do outro. A dependência emocional também é grande e ser dependente do outro e ter o outro sob controle é o que lhes satisfaz.

Muito tem se falado sobre a “geração canguru”, em que filhos mais velhos continuam morando com seus pais mesmo com condições de constituírem uma família. Engana-se quem pensa que é só uma questão de comodidade e de conforto se manter na casa dos pais. Mais do que isso, falta coragem para saírem de casa e serem independentes emocionais destes pais que tanto lhe proveram quando necessário.

É importante termos consciência de que passamos por diversas fases da vida. Há a fase de sermos filhos, dependentes, em fase de crescimento e aprendizado. E há a fase de sermos independentes, fazermos nossas escolhas, seguirmos nossos caminhos. Escolhas profissionais muitas vezes ainda são pautadas pela influência dos pais na vida dos filhos. Gerações de médico ainda não permitem que aquela nova geração não siga aquela carreira tradicional na família por anos. Mas e se a vocação da pessoa é para outra coisa, vai ficar presa á tradição familiar ? Infelizmente, se não for independente emocionalmente, provavelmente vai.

Os filhos de ontem são os pai de hoje, são constituintes de novas famílias, são educadores morais e emocionais de seus filhos. Devem saber que, mesmo que não queiram, são exemplos para seus filhos e que pelo tamanho de sua responsabilidade, devem ter a preocupação em dar o melhor exemplo para os filhos. E nada mais saudável para todas as partes do que criarem filhos independentes emocionais, capazes de cortarem o vínculo com os pais quando necessário, em busca de suas próprias escolhas e realizações. 

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Reflexões sobre o que não gostamos


Trabalho com Coaching e Psicanálise Clínica. Atendo vários clientes e pacientes com diferentes demandas. Ouço suas histórias, reflito com eles sobre seus sentimentos, seus valores, suas expectativas. Percorro os diferentes ângulos das histórias que me trazem e é muito frequente que relatem coisas que não são agradáveis para eles. Mas para todos eles, em diferentes situações, faço a seguinte ponderação : se não gostou, podemos amar o que nos aconteceu ?

O que significa amar mesmo não gostando ? Você está preso no trânsito, atrasado para seu compromisso. Gostou ? Não, não gostou. Mas vai adiantar ficar buzinando e deixando o trânsito mais estressado do que ele já está ? Então não tem saída : é melhor amar, mesmo não gostando.
Você entregou o trabalho para seu chefe, ele fez várias observações e mandou que o trabalho fosse refeito. Você gostou ? Não. Então é melhor amar mesmo não gostando. Vai ter que refazer de qualquer forma.

Você marcou um cinema com os amigos e quando estava quase chegando lá o pneu furou.... Foi-se o cinema e a companhia agradável deles. Você gostou ? Não. Mas é melhor amar mesmo não gostando, o que mais você pode fazer ? Reclamar ?

Assim é a vida : acontecem coisas que gostamos e coisas que não gostamos. Podemos xingar, espernear, gritar, discutir quando não gostamos. Mas do que isso vai adiantar ? Vai resolver xingar o chefe que não gostou do seu trabalho ? O problema com o pneu vai se resolver sozinho se você espernear e gritar ? Acho que não. Então a melhor alternativa é amar.

Mas amar o quê ? Amar quem ? Amar o que você não gostou, por isso, amar mesmo não gostando. Se o trânsito parou, aprenda com aquela situação. Aproveite para ouvir a música que você gosta ou acompanhar o jornal pelo rádio, não vai sair dali mesmo....

Você pode também amar seu chefe pelas observações que ele fez do seu trabalho, pois é uma oportunidade de aprendizado. Você pode amar os amigos que foram ao cinema sem você e pensar que numa próxima oportunidade haverá um novo encontro para vocês matarem as saudades e botarem o papo em dia.

Não torne o mal estar maior do que ele já é, não complique o problema, não aumente a discórdia. Amar mesmo não gostando significa que você é maior do que aquele problema corriqueiro que lhe aconteceu. Ninguém gosta de trânsito ou de ter que trocar um pneu. Mas Jung já dizia que para tudo existe um propósito. Então, ame mesmo não gostando. Se não deu certo daquela vez, sempre há um por quê, basta ter olhos para ver.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Cuidado com suas idealizações


Todos nós queremos ser feliz ! Para alguns, a felicidade se expressa em prosperidade financeira : uma linda casa, um carro importado na garagem, viagens frequentes ao exterior, consumo em lojas e restaurantes caros e por aí afora.

Para outros a felicidade se expressa pela carreira profissional : um grande cargo numa grande empresa, conquistado depois de muito esforço, muito estudo, muita dedicação, muita resolução de conflitos, algumas puxadas de tapete, talvez alguma bajulação junto ao seu superior, muitas horas mal dormidas devido à tanta dedicação aos relatórios para a empresa.

A felicidade está na conquista do amor, numa vida afetiva feliz, numa família estruturada, dirão outros. Filhos bem criados, valores  de retidão e caráter bem estimulados, respeito, confiança e cumplicidade com seu cônjuge e com seus filhos.

Só é feliz quem tem saúde, dizem muitos. Afinal, de que adianta muito dinheiro, uma carreira bem sucedida, uma família bem estruturada se não se tem saúde ? Na ausência de saúde percebemos o quanto somos frágeis e vulneráveis, o quanto muitos de nossos valores podem ser repensados e reavaliados, uma vez que a saúde é um bem muito precioso e que muitas vezes é preciso que nos falte para que possamos perceber seu real valor. 

Todos nós merecemos todas estas conquistas, por que não ? Mas uma coisa é importante ressaltar : o quanto idealizamos cada uma delas. O quanto podemos nos tornar dependentes de realizações externas,  deixando de lado nosso caráter e nosso aprendizado. Afinal, mais importante do que a conquista é a caminhada, o caminho percorrido para chegarmos lá.

A idealização nos faz imaginarmos o sucesso apenas nas conquistas materiais, por exemplo. E neste caso, se a prioridade que elegemos é esta, não pode ser a conquista de uma casa simples ou de um carro qualquer, tem que ser A casa e O carro. Da mesma forma, idealizamos nossa carreira, achando que quando chegarmos lá tudo será diferente, agora vamos mandar e não mais obedecer.... doce ilusão. Pra alguém você vai ter que responder, nem que seja para o Conselho ou para os acionistas da empresa.

A idealização afetiva também acontece. Pensamos que nos casamos com o Príncipe ou a Princesa encantados para descobrirmos, não muito tempo depois, que nosso cônjuge tem tantos defeitos ou mais do que nós. Idealizamos também a saúde na forma de exercícios pesados, dias e dias na academia, dietas mirabolantes, vitaminas e nutrientes sofisticados, que nos garantirão a saúde perfeita !

Cuidado com as idealizações ! Sua casa pode não ser uma mansão mas é a melhor casa do mundo porque é sua, porque tem a sua cara. Seu carro pode não ser importado, mas atende você e sua família muito bem, com conforto e segurança.

Da mesma forma, sua carreira não pode ser o centro de sua vida, quando você deixa sua família de lado e nem percebe que seus filhos estão crescendo, mudando de fase, conhecendo o mundo e apreciariam muito se tivessem sua companhia nas diversas fases da vida deles. Assim como uma boa saúde não precisa ser sinônimo de um corpo sarado ou de uma dieta especial, cheia de vitaminas e nutrientes artificiais, quando na verdade o que lhe daria saúde seria simplesmente cultivar e comer uma fruta do pé.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Pessoas de bem com a vida e pessoas presas no passado


Em meus atendimentos, ouço histórias fascinantes. Tenho pacientes que vivem de bem com a vida, não se apegam às tristezas, não se ressentem por terem tido problemas na infância, ou mesmo compreendem as limitações de seus pais e por isso não os culpam quando percebem que por conta da educação recebida, algumas coisas não aconteceram exatamente da melhor maneira que poderiam ter acontecido. 

Outros pacientes são totalmente apegados ao seu passado. Vivem de comparações, enxergam que tiveram uma educação injusta, que seus pais privilegiaram seus irmãos, que a vida foi injusta com eles. Entendem que tiveram que lutar muito para chegar onde chegaram e que quando olham para o lado, a vida foi mais fácil para as outras pessoas.

Pacientes de bem com a vida tomam as rédeas de suas vidas. Acreditam que seu sucesso depende só de si próprios. Acreditam que as adversidades os farão mais fortes e muitas vezes, compreendem que podem ajudar muito as pessoas ao seu redor simplesmente dando exemplo de uma boa conduta.

Pacientes apegados ao passado não conseguem viver de bem com a vida. Sempre encontram um motivo para reclamar. Têm mágoas e frustrações. E isto os deixa cada vez mais apegados ao seu passado. Muitas vezes são incapazes de enxergar as oportunidades que estão à sua frente. Algumas vezes usufruem de grandes oportunidades, mas não enxergam que têm mérito em suas conquistas, pois de alguma forma alguém alcançou muito mais do que eles.

Podemos, erroneamente, nos sentirmos superiores porque temos muitas conquistas. E isto pode nos gerar um sentimento de onipotência, de presunção e arrogância frente às pessoas que julgamos mais fracas ou menos capazes.

Podemos também, se nos sentimos inferiores, nos vitimizarmos. E quando isto acontece, queremos chamar a atenção para nós a todo custo, pois somos coitadinhos, nada dá certo em nossas vidas, somos perseguidos e por vezes azarados...

Procuro mostrar aos meus pacientes os ganhos e perdas de cada situação. O quanto as adversidades nos fazem mais fortes. O quanto crescemos quando tomamos as rédeas das nossas vidas e fazemos nossas escolhas. Se são escolhas erradas, sofremos. Se são escolhas certas, comemoramos. Mas independente do resultado, vamos caminhando e colhendo o resultado destas escolhas, o que nos torna mais sábios, mais generosos e mais humanos. Basta ter olhos para ver e coração para sentir.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Sobre pais e filhos “cangurus”


Tem acontecido com certa frequência : pais separados que se casam novamente vivem uma relação de conflito com seu novo cônjuge por causa dos filhos do casamento anterior. 

Isto acontece porque estes filhos de pais separados querem medir forças com madrastas e padrastos, perderam o respeito por seus pais, não se importam em causar conflito com o novo cônjuge do pai ou da mãe, porque são filhos egoístas. Filhos que pensam que os pais vivem pra eles, que não têm pressa em trabalhar, se sustentar, buscar uma carreira, a famosa “geração canguru”. Pra que ter pressa de sair da casa dos pais se ali tudo é permitido ? Se tenho casa, comida e roupa lavada e não pago nada por isso, por que ir embora ?

E assim juntamos dois problemas para revelar uma crise anunciada : filhos que não se tornam independentes e que conflitam com seus pais e com seus novos cônjuges. Pais biológicos que não souberam negociar com seus filhos e impor limites, que os protegeram da vida e agora pagam um preço caro por isso, pois criaram filhos dependentes, sem iniciativa, sem projetos, sem sonhos, acomodados e preguiçosos. Padrastos e madrastas que não têm o direito de repreender filhos alheios mas que sabem exatamente como aquela situação chegou naquele ponto. Eles não se sentem no direito ou numa posição confortável para repreendê-los, mas é exatamente disto que estes filhos precisam.

Muitos podem se perguntar : e como a situação chegou a este ponto ? Chegou a este ponto porque faltou negociação, faltou repreensão, faltou diálogo, faltou amadurecimento, faltou um olhar mais empático sobre a vida dos pais, um olhar mais empreendedor sobre sua própria vida entre tantas outras repostas.

Se você é filho, faça um exercício de se colocar no lugar dos seus pais. Veja tudo o que eles fizeram por você e procure perceber que você tem uma vida pela frente que é sua e não deles. Dê seu primeiro passo, caminhe com suas próprias pernas e viva sua própria vida. Corra riscos, sofra, ria, chore, aprenda.... você sairá vivo desta experiência, tenho certeza ! E muito mais maduro também !

Se você é pai, sempre é tempo de uma nova reflexão, uma nova atitude, uma alternativa diferente para apresentar ao filho. Delegue mais, cobre mais, pague menos, negocie uma contrapartida pela casa, comida e roupa lavada que oferece ao seu filho. Mas não como chantagem e sim como colaboração. Ele pode ainda morar com você, mas deverá ter responsabilidades na casa. E se ainda não as tem, está na hora de tê-las. Está na hora dele perceber o custo das coisas, os momentos da vida em que temos que abrir mão de algo hoje para uma conquista maior amanhã. 

Aprendam a conversar e a negociar. Ambos sairão mais ricos desta experiência, crescerão juntos e poderão até relembrar que um é pai e o outro é filho, e que amanhã pode ser que este pai precise do cuidado deste filho, como um dia este pai o cuidou.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

A jornada de cada um


Jung dizia que todos buscamos ser melhores do que somos. Que nossa vida é uma caminhada evolutiva que leva ao desenvolvimento de nossa consciência. Assim sendo, quanto mais caminhamos, mais evoluímos, pois tomamos consciência das coisas, o que nos era inconsciente passa a ser consciente, descobrimos por que agimos ou agíamos de determinada maneira e a partir desta tomada de consciência, evoluímos em nosso caminhar.

Quanto mais me conheço, mais sei reconhecer em mim meus pontos fracos, meus pontos fortes, quando ajo de acordo com o que esperam de mim, quando ajo de acordo com meus valores. A partir destas descobertas, percebo que meu consciente e meu inconsciente estão integrados e que quanto mais luz eu trouxer ao meu inconsciente, maior desenvolvimento e evolução terei. Este é o caminho da Individuação, a realização do Self, a integração do consciente com o inconsciente.

A partir desta consciência ampliada, colaboro com a evolução de todos ao meu redor, pois compreendo que todos cumprem sua jornada individual, que é também coletiva. Ajudar o paciente na ampliação de sua consciência, em sua busca pelo auto conhecimento é um trabalho nobre e que também exige muito cuidado.

Cabe ao meu paciente sua própria jornada, a velocidade com que decide caminhar, o que está disposto a enxergar, o quanto é capaz de não se defender e ser capaz de se ver inseguro, por vezes fraco, muitas vezes receoso, mas ainda assim, caminhando, pois ao buscar se entender, compreende mesmo que de maneira sutil, que está tendo um ato de coragem, em busca de si mesmo.

Ter as rédeas de sua própria vida, ter coragem de se posicionar, de lutar pelo que acredita, fazer escolhas e pagar o preço por elas, colher os frutos, errar, acertar, tudo isto faz parte da jornada individual de cada um. Ser responsável  por seus atos e não delegar ou culpar ninguém pelas adversidades da vida, pelos momentos em que nos acovardamos ou postergamos uma decisão, eis uma atitude nobre, madura, de um ser que já tem consciência de que está em evolução.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

O Grau de consciência de cada um


No meu trabalho como psicanalista clínica, encontro diversas pessoas com diversas histórias. Cada uma traz suas referências, sua bagagem, seus valores, seus defeitos e qualidades, o que faz de cada um, uma pessoa única e especial.

Acho interessante observar as tramas da vida, o que cada um busca, como cada um age ou reage, o que é importante para um e que para o outro não tem o mínimo valor. Quais são as prioridades de cada pessoa e o que cada um deseja para si, visando sua realização pessoal.

O que me encanta em tudo isso é como somos diferentes e como, frente a determinada situação, cada um age ou reage de alguma forma. Vejo uma filha que se ressente com seu pai, porque ele teve uma vida muito difícil, não teve uma retaguarda financeira de seus próprios pais e hoje entende que a filha deve passar pelas mesmas dificuldades que ele passou, pois ele teve que batalhar pelo que conseguiu. 
E então, nada mais justo que a filha também passe pelas mesmas dificuldades, mesmo ele sendo um pai que teria como lhe dar a retaguarda financeira que ele tanto desejou e não pôde receber de seus pais.

E vejo a mesma história em outro paciente, que tem um pai que também passou por dificuldades financeiras na vida, mas que ao se ver vencedor, proporcionou tudo para os filhos, pois ele entende que se seus filhos não precisam passar pelas mesmas dificuldades que ele passou, já que hoje ele pode ajudá-los.

E aí cabe a pergunta : por que cada pai age de um jeito ? Evidentemente porque cada um tem uma história, tem suas dores, seus medos, suas conquistas, seus valores. Mas principalmente porque cada um tem um grau de consciência diferente. Enquanto um entende que os filhos devem passar pelas mesmas dificuldades que ele passou, o outro entende que os filhos podem ser poupados das mesmas dificuldades vividas por ele já que ele pode ajudá-los. E então, quem está certo ?

Não entendo que exista um certo ou errado, que um pai agiu de uma forma mais certa que o outro. Entendo sim que cada um deu o que pôde dar – e isto é o mais importante ! Não devemos desejar do outro o que ele não pode nos dar. Às vezes queremos um carinho, uma palavra de afeto, mas ela não vem.... o outro não sabe ser carinhoso e afetuoso. Noutras vezes queremos atenção, mas o outro está preocupado com outras questões, não entende que é importante dar seu tempo e sua atenção para quem precisa, ele não pode dar, porque de alguma forma não entendeu que isto seria importante, talvez também não tenha recebido atenção quando precisou.

E nós, que assistimos histórias assim ou mesmo as vivenciamos, podemos olhar com olhos de compaixão para o que não dá porque não tem pra dar ou não sabe dar, e entender que na trajetória dele ele não aprendeu a olhar para o outro, apenas para si mesmo, pois a vida foi difícil para ele, ou mais difícil do que ele poderia supor. 

sábado, 23 de abril de 2016

Somos nós que cuidamos do nosso jardim


Todos os dias Maria acorda, pega o ônibus para o trabalho no ponto de ônibus na esquina de casa e segue para o trabalho. No trabalho cumpre a rotina de sempre e no final do dia pega o mesmo ônibus que a levou para o trabalho, desta vez no trajeto inverso, de volta para casa. Desce no ponto de ônibus na esquina oposta de onde embarcou pela manhã, e assim retorna para casa, já pensando na comida do jantar.

Janta, toma um banho, assiste à novela e vai se deitar. No dia seguinte, a mesma toada de sempre : se levanta, pega o mesmo ônibus para o trabalho, etc, etc, etc...

Seus dias têm sido assim há muitos anos, até que numa manhã algo lhe chamou a atenção : a vizinha que mora em frente à sua casa está cuidando de seu jardim, admirando as lindas rosas amarelas que floresceram e trazem um lindo colorido para sua casa. Na volta do trabalho, Maria passa em frente ao jardim, já que está do lado oposto à sua casa, e neste instante se encanta com o perfume das rosas amarelas.

Ela chega em casa e janta, toma banho, assiste à novela e vai se deitar, como em todos os outros dias. Mas neste dia ela sonha. Sonha que está num jardim cheio de rosas amarelas, lindas, perfumadas, que a convidam para dançar. E no sonho ela dança, rodopia, gira e se embriaga com tanto perfume.

No dia seguinte ela acorda, pega o ônibus para o trabalho, mas já tem algo diferente em sua mente. No seu horário de almoço, diferente de todos os outros horários de almoço que sempre foram iguais, procura uma floricultura e ao contrário do que poderíamos supor, não compra rosas amarelas e sim, se informa de onde encontrar as sementes e como cuidar de rosas.

Ao chegar em casa, não janta, não toma banho, não assiste a novela e não vai se deitar. Vai ao seu quintal, escolhe um vazo grande e velho, descascado, esquecido ali há anos, e o prepara para receber as rosas mais lindas que poderiam existir.

Nos dias seguintes, compra terra, semente, adubo, planta as rosas e conversa com seu vaso, que passou a ser seu grande confidente. Sabe que dali emergirá vida, perfume, cor, tudo o que faltava em sua vida. Entende a sutileza de se cuidar de um jardim, compreende que é capaz de cultivar lindas rosas se suas lindas rosas também forem cultivadas internamente. Percebe, enfim, que aprendeu com sua vizinha uma grande lição : somos nós que cultivamos e cuidamos do nosso jardim.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Quando damos um passo errado


Acontece na vida de todos nós. De repente, damos um passo errado e como consequência, perdemos algo precioso. Às vezes, pode ser um emprego. Um belo dia você se desentende com seu chefe e quando menos imagina, está demitido, em busca de novas oportunidades no mercado. Você estava bem no emprego, gostava do trabalho, dos seus colegas, dos desafios apresentados, mas por um descuido, acabou se desentendendo com o chefe e tudo se perdeu...

Outras vezes pode ser uma amizade que se perde. Aquele amigo não te ouviu bem, houve um mal entendido e vocês deixaram por isso mesmo. Não esclareceram as coisas, não buscaram aparar as arestas em nome de tantos anos de amizade e de repente você se vê sozinho (a), sem aquele ombro amigo, aquele amigo que te conhecia tão bem, que cresceu com você se foi....

Pode acontecer também de você dar um passo errado em seu relacionamento. Seja namoro, noivado ou casamento, você pode se deixar levar pelas tentações, quando o pacto do casal era o da fidelidade. E assim, num mau passo, num pequeno deslize, que pode não ter representado muita coisa pra você, você coloca o relacionamento em risco. A outra parte descobre, o relacionamento termina e você pode ficar com aquele amargo na boca, de quem só quis curtir e de repente percebe que se deu muito mal.

E ao término de cada uma destas experiências descritas acima, você se vê perdido (a), sem rumo, emocionalmente desestabilizado (a), pois não imaginava que o pior poderia acontecer. Ao perder o que lhe era caro, percebe que aquilo era muito mais precioso do que você pensava ou mesmo valorizava.

Se foi o emprego, se vê amargurado (a), porque gostava de trabalhar ali. Era um bom salário, um cargo decente, bons desafios... e emocionalmente você se deixou levar.... O mesmo com a amizade ou com o relacionamento que se foi : quando você se dá conta, percebe que seu emocional falou mais alto e você não mediu as consequências dos seus atos. E aí é tarde demais...

Independente da circunstância em que você deu o passo errado, o mais importante é se perdoar. Se perdoar porque falhou, pôs tudo a perder, não se deu conta de como aquilo era importante. Mas ainda assim você deve se perdoar, para poder seguir em frente, para poder dormir bem, para poder acreditar que novas oportunidades virão e serão mais valorizadas. Não se martirize, somos falíveis, erramos, caímos, erramos, caímos, aprendemos, erramos de novo, caímos, aprendemos mais uma vez. Assim é o ciclo da vida.

E após se perdoar, verifique o que você aprendeu com aquela experiência, reflita sobre suas falhas, sobre o que você gostaria e poderia mudar em suas atitudes e seu comportamento para que aquilo não mais se repita. Extraia o ensinamento daquela experiência. Pode ser que você não tenha mesmo chance de ter aquele emprego de volta ou mesmo de reatar naquele relacionamento, mas você amadureceu. Doeu e aprendeu, valorizou, mesmo que tardiamente, o que aquilo significou na sua vida. E sabe que vai continuar em frente em sua caminhada, simplesmente porque merece ser feliz !

quarta-feira, 23 de março de 2016

Conhece-te a ti mesmo


Nos meios atendimentos em Psicanálise Clínica encontro diversos tipos de pacientes. Alguns vêm muito abertos, conscientes do que procuram, muitas vezes angustiados e em busca de uma ajuda para enfrentarem suas dificuldades. Outros nem tanto. Chegam buscando ajuda, mas ao mesmo tempo em que têm consciência de que uma ajuda é necessária, chegam defendidos, com pouca abertura para ouvirem verdades muitas vezes inconvenientes, e outras vezes com pouca disposição para se deixarem analisar, para que as origens do problema venham à tona e sejam identificáveis. 

Nosso inconsciente é poderoso. Podemos dizer que estamos dispostos a resolvermos o problema, quando na verdade estamos apenas racionalizando, que num conceito simplista, seria inventar uma desculpa que mascara o que de fato está acontecendo.

Encontro pessoas que dizem estar tudo bem quando na verdade estão desmoronando por dentro. Isto elas não podem aceitar, embora aceitem de bom grado que buscaram ajuda na Psicanálise e por isso já deram o primeiro passo para a solução do problema.

É muito difícil olharmos para nós mesmos, admitirmos nossos erros, constatarmos que às vezes somos mais cruéis do que deveríamos, especialmente conosco. Também é muito difícil pedirmos perdão, aceitarmos a nossa culpa por algo que nem sempre tínhamos a intenção de fazer mas fizemos. E fizemos por quê ? Porque nosso inconsciente é mais poderoso do que pensamos, porque dizemos sim quando na verdade queríamos dizer não.

Existem algumas portas para nosso inconsciente : o sonho é uma delas, e uma porta muito rica, por sinal. Ali, realizamos o que reprimimos e recalcamos, nos permitimos prazeres e desejos ocultos. Por vezes colocamos outra pessoa em nosso lugar no sonho, e esta pessoa realiza tudo o que gostaríamos mas não conseguimos realizar. É um truque, como bem sabem os psicanalistas.

Outra porta para o inconsciente são os atos falhos. Um amigo pode nos pedir um dinheiro emprestado e prontamente o ajudamos lhe entregando um cheque. Um cheque que não é compensado no banco, porque “sem percebermos” , foi preenchido com a data do ano anterior. Então será que estávamos mesmo dispostos a emprestar-lhe o dinheiro ?

Outra porta para acessarmos o inconsciente são desenhos, os mais famosos são os testes da árvore, da casa, da família.... Existem também outros métodos, como o teste de Rorschach, mais conhecido como "teste do borrão de tinta", em que cada um interpreta o que entende que é aquele desenho.

O Processo Psicanalítico é muito rico, temos um inconsciente a ser desvendado, uma riqueza interior oculta que merece ser trazida à luz para que compreendamos melhor quem somos, por que nos incomodamos com alguns fatos ou pessoas, por que algumas situações nos dão prazer, por que ainda não vencemos nosso maior inimigo. Quem ? Nós mesmos. Como bem nos lembrou Sócrates : “Conhece-te a ti mesmo, torna-te consciente de tua ignorância e serás sábio”.