Patrícia Camargo

Patrícia Camargo - Formação em Psicanálise Clínica com o Prof. Wilson Cerqueira, do Centro de Estudos em Psicanálise Clínica, filiado à Associação Brasileira de Psicanalistas Clínicos (ABPC). Atualmente faz Pós Graduação em Psicologia Junguiana no IJEP - Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa em São Paulo.

Realiza atendimentos como Psicanalista Clínica em Sorocaba e Campinas e também online.

Também trabalha há mais de 10 anos com Coaching de Vida e é especialista em Coaching Afetivo. É conciliadora da Justiça Federal e autora dos blogs Coaching & Psicanálise e Psicanálise Sorocaba.

Por que fazer Psicanálise ?
Porque em algum momento de nossas vidas sofremos traumas, sentimos mágoas, culpas, frustrações, perdemos o rumo, nos desconhecemos, buscamos ser melhores do que somos e sabemos que podemos ir além.

Geralmente, as pessoas não têm consciência das diversas causas que determinam seus comportamentos e suas emoções. Estas causas estão em nosso inconsciente, e através de um Processo Psicanalítico, é possível compreendermos por que agimos como agimos e como podemos ser pessoas melhores, mais equilibradas e conscientes de nossos atos e escolhas.

Através do método da Individuação desenvolvido por Jung, paciente e analista buscam juntos a resolução dos conflitos mediante sua re-significação, possibilitando a ampliação da consciência do paciente. Com a interpretação do material trazido pelo paciente, o Processo Psicanalítico possibilita o surgimento de novos caminhos e novas possibilidades para que o paciente tenha uma vida plena e feliz.

Contatos pelo e-mail psicanalise@patriciacamargo.com.br ou pelos celulares (15) 9 9855-2277 / (19) 9 9739-4019 (What´s app)


Link da matéria da TV Tem (Afiliada da Rede Globo em Sorocaba) em que Patrícia Camargo é entrevistada sobre como realizar seus sonhos :



sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Uma nova economia psíquica - entrevista com Charles Melman - IHU Online


“O que revela uma cura psicanalítica são as diversas maneiras como um animal falante é fabricado pela linguagem. Freud o estabeleceu, mas sem poder formalizá-lo, por falta de uma ciência lingüística constituída em sua época. Como o próprio Lacan o repetia, ele era freudiano: ele apenas formalizou a experiência de cura freudiana. Quanto aos limites, Lacan estava seguro deles, porque ele era civilizado. Mas, sua particularidade era que ele trabalhava com a possibilidade, ou não, de um limite que não teria sido psicopatogênico”.

A afirmação é do psicanalista francês Charles Melman, em entrevista por e-mail à IHU On-Line. Aluno de Lacan, Melman esteve na Unisinos em 2007, como conferencista de abertura do Simpósio Internacional sobre o futuro da autonomia.

Melman é membro fundador da Association Freudienne Internationale e diretor de ensino na antiga École Freudienne de Paris. Escreveu dezenas de livros, entre eles Novas formas clínicas no início do terceiro milênio. Porto Alegre: CMC, 2003; Neurose obsessiva. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2004; Formas clínicas da nova patologia mental. Recife: CEF-Recife, 2004; O homem sem gravidade – gozar a qualquer preço. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2005; Será que podemos dizer, com Lacan, que a mulher é sintoma do homem? Rio de Janeiro: Tempo Freudiano, 2005; Retorno a Schreber. Porto Alegre: CMC, 2006.


IHU On-Line – Qual é o significado de estarmos comemorando os 150 anos do nascimento de Freud?
Charles Melman - Esta comemoração teria, sem dúvida, dado prazer a Freud, se fossem levadas em consideração suas teses. Os infortúnios atuais da psiquiatria, cuja clínica está diretamente escrita pelos serviços de marketing dos laboratórios (cf. o DSM IV ) e a epidemia (seria preciso dizer epizootia) do cognitivo-comportamentalismo contemporâneo mostram que se está longe disso.


IHU On-Line – Quais são as principais diferenças que o senhor constata entre o funcionamento da mente humana redescobertos por Freud e Lacan e a forma como a mente humana contemporânea funciona?
Charles Melman - Freud atribuía as neuroses e o mal-estar na cultura à excessiva repressão que ela exercia sobre a sexualidade. Entretanto, ele também mostrou que a própria possibilidade do exercício da sexualidade estava ligada à colocação de um limite, com as conseqüências da passagem que conta o mito de Édipo . Ora, a opinião pública só reteve de Freud um convite ao hedonismo; ela deixou fora a necessidade da temperança.


IHU On-Line – A que o senhor chama de “nova economia psíquica”?
Charles Melman - A sociedade de consumo é um convite permanente a ultrapassarem-se os limites da satisfação. Os jovens que se drogam não fazem senão responder a isso, mostrando aos seus pais – quando estes não renunciaram ao respeito pelo que é proibido – que eles podem fazer melhor do que seus pais. Este melhor implica uma banalização da sexualidade, perfeitamente dessacralizada e, desde logo, reduzida a ser uma satisfação igual às outras. Correntes religiosas, nomeadamente evangelistas, o justificam em nome do amor, que escusaria dos excessos e das perversões, e que transforma os seus ofícios em parties (party) ou, pelo menos em festas… É suposto que, buscando coletivamente o prazer, se daria prazer a Deus. O peccate fortiter (pecai fortemente) agora se declina assim em gaudete fortiter (alegrai-vos vivamente). No entanto, isso é um erro de estrutura e, então, de doutrina, pois o lugar do pai só se preserva na temperança, exigida por quem? Não pelo próprio pai, que pode efetivamente ser todo amor e aceitar sua própria morte, mas pela estrutura. É claro que a intemperança atual repete a morte do pai, mas ao preço de um sacrifício do desejo, transformado em simples necessidade corporal, pois o desejo só pode entreter-se por uma busca, objetiva (o que é que eu quero?) bem como espiritual (quem é este “eu” que quer?), que está atualmente sufocado pela promoção de produtos farmacológicos ou tecnológicos, suscetíveis de conduzir a uma satisfação que vai até, por saturação, ao esvanecimento do sujeito. Este processo se estabelece ao preço de uma afecção, da dependência do organismo diante dos objetos, que se manifestam como uma pulsão que estaria liberta da vontade e da escolha do sujeito. Mutação da cultura A mutação de nossa cultura está ligada a este ponto de aparência mínima e, no entanto, essencial: ele diz respeito ao estatuto do objeto, agora não mais representado, mas exigido em sua própria positividade. Como se se passasse do erotismo a uma pornografia generalizada. Tal operação passa por um afastamento do lugar do Verbo – do qual se pôde dizer que ele estava no início – em proveito de uma relação, tornada direta, do organismo ao seu meio ambiente. Com base em tal operação, a bem dizer regressiva, floresce o cognitivo-comportamentalismo. Ela é bem regressiva, já que nossa cultura começou na Grécia com a busca no logos do mediador que, rompendo com as grosseiras ilusões do organismo, funda a ética e o saber. Todo saber implica uma ética, incluindo o saber científico.


IHU On-Line – Que desafios apresenta uma sociedade de indivíduos? Quais os limites e as possibilidades da autonomia?
Charles Melman - A meu ver, trata-se de mais uma promoção do narcisismo explorado pelos escritórios de marketing, que de um individualismo propriamente dito. Em todo o caso, este tem a tendência de se reabsorver na formação de grupos comunitários, fundados na similitude de seus membros.


IHU On-Line – O senhor foi aluno de Lacan. Quais foram as grandes luzes do discípulo de Freud e quais suas principais limitações?
Charles Melman - O que revela uma cura psicanalítica são as diversas maneiras como um animal falante é fabricado pela linguagem. Freud o estabeleceu, mas sem poder formalizá-lo, por falta de uma ciência lingüística constituída em sua época. Como o próprio Lacan o repetia, ele era freudiano: ele apenas formalizou a experiência de cura freudiana. Quanto aos limites, Lacan estava seguro deles, porque ele era civilizado. Sua particularidade, porém, era que ele trabalhava com a possibilidade, ou não, de um limite que não teria sido psicopatogênico.


IHU On-Line – A figura do pai e da autoridade hoje é diferente à definida por Freud. Que conseqüências trouxe essa mudança para as diversas instituições sociais?
Charles Melman – Desde as comédias gregas ou romanas, se zomba da figura do pai: porque ele privilegia o patrimônio ou contraria os amores. Entretanto, o que quer que tenha havido, o poder, seja ele familiar ou civil, se legitimou com uma autoridade religiosa e que, com o judeu-cristianismo, assumiu figura paternal. Sabe-se que hoje em dia esta figura é menos condutora de mandamentos do que de um laissez-faire liberal. De tal sorte que o último poder respeitado torna-se aquele, bem real, da polícia, do exército, das multidões.


IHU On-Line – Quais são os sintomas de uma sociedade que corre atrás da “eterna juventude”?
Charles Melman - A cisão entre gerações desdiz a questão precedente. É assim que aqueles que a põem em relevo procuram dissimular sua idade para se fazer aceitar. É uma bela reversão, pois até então eram os jovens que procuravam se fazer reconhecer por seus progenitores.


IHU On-Line – Tentando olhar do ponto de vista do fundador da psicanálise, qual seria o principal mal-estar da contemporaneidade?
Charles Melman - Podemos nos felicitar por um desenvolvimento econômico que permite dar satisfação para cada uma das próprias necessidades. O problema é que, em nossa cultura, a própria necessidade não tem regulação orgânica. Prova é a obesidade dos países ricos, as diversas dependências, a devastação dos recursos naturais, etc. Em suma, nós perdemos todo o bom senso, quando ainda somos incapazes de viver sem que nossa vida tenha um sentido.


DSM.IV: É a classificação dos transtornos mentais da Associação Americana de Psiquiatria. (Nota da IHU On-Line)
Édipo: personagem da mitologia grega, famoso por matar seu pai, sem saber quem este realmente era, e casar-se com a própria mãe. Filho de Laio e Jocasta. A história está recolhida em Édipo Rei e Édipo em Colono, de Sófocles. Vários escritores retomaram o tema, que também inspirou Igor Stravinsky para a composição de um oratório. (Nota da IHU On-Line)
Jacques Lacan (1901-1981): psicanalista francês. Lacan fez uma releitura do trabalho de Freud, mas acabou por eliminar vários elementos deste autor (descartando os impulsos sexuais e de agressividade, por exemplo). Para Lacan, o inconsciente determina a consciência, mas este é apenas uma estrutura vazia e sem conteúdo. (Nota da IHU On-Line).

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Psicanálise - A Ciência do Inconsciente


PSICANÁLISE é um método de investigação dos processos psíquicos e um método de tratamento dos distúrbios psíquico-emocionais.
Criado pelo Neurologista austríaco Sigmund Freud. Caracteriza-se por uma visão dinâmica de todos os aspectos da vida mental, conscientes ou inconscientes, salientando no entanto o papel destes últimos.
A psicanálise é a união entre a pesquisa e o tratamento, é impossível tratar sem aprender alguma coisa nova, todo esclarecimento leva a libertação psíquica.
As técnicas de investigação e tratamento, caraterísticas da psicanálise consistem na observação das expressões de associações livres, sonhos e de fatos de transferência emocional. Já se demonstrou que, depois de alguns anos de sessões, a psicanálise é capaz de alterar a química cerebral, assim como os remédios.

ANÁLISE JUNGUIANA também chamada psicologia analítica, tem como referencial a obra do psiquiatra Carl Gustav Jung.
Foi desenvolvida com base nos estudos de Freud e no amplo conhecimento que Jung tinha da tradição psicológica contida na alquimia e na mitologia.
Ela parte do pressuposto de que a psique é formada por uma parte consciente e outra inconsciente e introduz o conceito de que o inconsciente se apresenta sob dois aspectos, um pessoal e outro coletivo. O processo terapêutico têm a finalidade de promover a harmonização entre essas instâncias(pessoais e coletivas), através da reflexão sobre as manifestações psíquicas, como emoções, idéias e sonhos (que Jung chamou de símbolos).
O processo permite ao indivíduo exercer melhor suas potencialidades. O foco do processo analítico é a demanda de cada indivíduo. É indicada em diferentes contextos, seja como tratamento em várias situações psicológicas , seja como um processo de autoconhecimento profundo.
Jung via a psique como positiva e negativa, um repositório não só das memórias e das pulsões reprimidas, mas também uma instância da dinâmica da divindade



Quem é e o que faz um terapeuta da área Psi?

Psicanalista ou Psicoterapeuta  é um profissional formado em , PSICANÁLISE que fez uma formação complementar em psicoterapias.
Esse profissional não possui como objetivo de sua conduta dizer o que o paciente tem e o que deve fazer, como um “guia de passo a passo”.

O trabalho do Analista ou terapeuta  é fazer uma construção conjunta de conhecimentos sobre a pessoa, porque ninguém sabe mais de sua vida, de sua vivência, de suas experiências, de seus sofrimentos, de suas alegrias, do que ela mesma. São esses conhecimentos, entre outros, que são resgatados e reproduzidos na sessão de terapia (psicanalítica- análise pessoal).

Essa técnica é uma fonte de informações riquíssimas e que muito do sofrimento e dos sintomas das pessoas podem se explicar nesse trabalho conjunto, além de possibilitar rever condutas, sentimentos próprios e de outras pessoas, de compreender e criar possibilidades de lidar com essas situações que já passaram e outras que ainda virão.

Fonte : Mente e cérebro

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Principais diferenças entre Freud e Jung - por Adriana T. Nogueira


Tem um antigo ditado que aprendi nos meus tempos de estudante de psicanálise, “Um homem caminha por uma estrada e encontra dois outros homens. O primeiro lhe pergunta de onde ele vem, o segundo, para onde ele vai. Esses dois homens são Freud e Jung.”

Sigmund Freud (6 de Maio de 1856 – 23 de Setembro de 1939) foi o fundador da psicanálise. Ele criou sua teoria após e por causa de seus estudos sobre uma interessante “doença” muito difundida naqueles tempos: a histeria. Carl Gustav Jung (26 de Julho de 1875 - 6 de Junho de 1961), que Freud havia inicialmente proclamado seu “herdeiro”, foi adiante a partir da experiência de outra doença psicológica: a esquizofrenia. Ambos os pioneiros trabalharam essencialmente com mulheres, seu principal objeto de pesquisa. Ele se depararam estupefatos diantes das atividades do inconsciente, que como eles perceberam podia tão profundamente subverter e conturbar a vida de uma pessoa. Entretanto os dois também chegaram a conclusões muito diferentes.

O pano de fundo sócio-cultural de cada um era bastante diverso um do outro. Freud era um judeu e sua vida em Vienna (Áustria) sofreu o preconceito racial. Quando jovem, Sigmund testemunhou a fraqueza do pai quando um homem passando pela rua lhe jogou o chapéu no chão num gesto de desdém ao qual o pai de Freud não reagiu. Jung, de outro lado, cresceu na pacífica e eternamente neutra Suíça, filho de um pastor cristão que havia perdido sua fé interior. Do lado da mãe, Jung contava com o grande Goethe entre seus ancestrais. Assim, enquanto Freud experimentava insegurança do ponto de vista social, Jung vivia a insegurança interna de uma alma consciente dos limites de instituições e valores coletivos. Enquanto o primeiro lidava com questões de poder e instabilidade, os quais iriam logo levar a Europa e o mundo ocidental para a catástrofe da segunda guerra mundial, o último estava mergulhado em referênciais culturais e religiosas relacionadas a batalha interior entre bem e mal, e à jornada individual através dos opostos, que iria definir o século e o seguinte, o nosso atual.

Consequente às suas diferentes origens sociais e culturais, Freud e Jung tiveram caminhos acadêmicos diversos. A filosofia positivista de fundo de Freud, em conformidade com seu tempo, está espelhada em suas opções universitárias. Ele se graduou como neurologista. Estudante diligente, Freud procurou os melhores professores para aprender mais e foi assim que chegou a Paris para estudar com um dos mais renomados neurologistas daqueles tempos, Jean Martin Charcot. Esta experiência o fez voltar-se para a psicopatologia, pois ele se sentiu atraído pelos estudos de Charcot acerca da histeria e sua susceptibilidade à hipnóse. De volta a Vienna, Freud usou a hipnóse com suas pacientes, logo abandonando-a para desenvolver seu método da livre associação e da interpretação dos sonhos, que iria dar origem à psicanálise.

Na nova era científica dos fins do século XIX, Freud foi o primeiro que levou os sonhos a sério e os estudou. Ele descobriu que os sonhos são o resultado de material psicológico camuflado que foi guardado no quarto escuro do inconsciente pessoal. O que uma pessoa entende como proibido ou desagradável é imediatamente reprimido e enterrado dentro. Entretanto, os conteúdos banidos vêm à tona todas as vezes em que os eventos da vida e a problemática interior se encontram, tornando impossível ao indivíduo fugir deles. Periodica ou cronicamente, esses conteúdos incomodam a consciência da pessoa e se manifestam através dos sonhos.

Após décadas de pesquisa, Freud achava que há duas principais correntes psíquicas que lutam pela supremacia: Thánatos (em grego antigo, “Morte”) e Eros (em grego antigo, “Amor”). A vida humana se desenrola entre a tendência para a destrução e o fim, e aquela que vai na direção da vida e da continuação da mesma. Apesar do rebelde Eros criar frequentes problemas, sendo o maior de todos representado pelo Complexo de Édipo, Freud finaliza seu pensamento afirmando que Thánatos é o que, no final, vence.

A impulso inconsciente sexual que ele incialmente acreditou ser concretista, de modo que o filho sentiría-se sexualmente atraído pela mãe e a filha pelo pai (no Complexo de Electra), mais tarde ele admitiu tratar-se de um impulso predominantemente simbólico, aproximando-se assim da visão de Jung.

O inconsciente que Freud teorizou é identificado como o resultado do acumulo do que foi descartado durante toda uma vida, cujo conteúdos são oriundos sobretudo da infância. A matéria desse “quarto escuro” luta constantemente para vir à superfície, perturbando o ego consciente. Freud acreditava que este era o inevitável preço que o gênero humano paga pela civilização (“O futuro de uma ilusão”, 1927). Apesar de não podermos ser completamente ‘curados”, podemos certamente suavizar e aleviar a dureza dessa condição humana e transformar os traumas da infância encarando os problemas do passado e redirecionando aquele impulso para outros objetos e objetivos, processo que ele chama de “sublimação”.

Enquanto Freud estava publicando seu revolucionário “Interpretação dos Sonhos” em 1900, Jung estava começando seu trabalho como jovem psiquiatra no Burgholzi, um hospital psiquiatrico em Zurique. De lá em diante, ele estudou os trabalhos de Freud e os aplicou ao tratamento de seus pacientes. Entretanto, os resultados o supreenderam, pois a mente esquizofrénica recusava algumas das afirmações de Feud. O problema principal era a respeito do sentido literal e simbólico dos sintomas e fantasias. Logo tornou-se claro que a abordagem freudiana era concreta demais e não se adaptava a alguns dos aspectos da psique com os quais Jung estava lidando.

Através do método da livre associação, Jung identificou relações entre idéias que das quais os pacientes não podiam ter conhecimento prévio, nem por ter ouvido ou lido a respeito. Indo adiante em suas pesquisas, ele encontrou paralelos entre as tramas e os símbolos dos sonhos de todo tipo de pessoas: desde seus pacientes até prisoneiros nas cadeias americanas e indígenas no meio da África. Não somente, ele se deu conta que havia temas recorrentes na história da cultura humana, expressos tanto na mitologia como na literatura. A conclusão de Jung foi que o inconsciente não podia ser somente pessoal. Há um nível mais profundo que é coletivo, pertencente a todo indivíduo do planeta.

A primeiro grande trabalho de Jung, “Símbolos da transformação” (1913), consistia numa longa interpretação dos sonhos e fantasias de uma mulher. Esse material apresentava evidentes aspectos simbólicos que Jung demonstrou estarem relacionados à simbologia universal humana. Ao publicar o livro, ele recebeu em cheio a reprovação de Freud e o inevitável rompimento da relação. Por causa da análise simbólica e da vasta bagagem de conhecimentos de mitologia, cultura e literatura que Jung usou ao longo das centenas de páginas de seu trabalho, Freud sentiu-se confrontado. Acima de tudo, Jung negava que o impulso sexual do qual Freud falava fosse um concreto. Para ele, se tratava de uma energia psíquica de proporções maiores que podia se minifestar como impulso sexual mas que era muito mais do que isso, apresentando aspectos simbólicos relacionados a etapas mais profundas e importantes do desenvolvimento humano.

Daquele momento em diante, os caminhos de Jung e Freud divergiram. Jung foi dasapossado do título de herdeiro, também porque ele estava mais interessado na pesquisa do que em administrar a crescente associação psicanalítica internacional, e Freud tornou-se sempre mais preocupado em segurar firme sua teoria, que estava lidando com uma série de modificações todas as vezes que um novo membro se vinculava a ela.

Jung passou o resto de seus quase 50 anos de vida trabalhando, pesquisando e escrevendo. Seu legado recolhe uma enorme quantidade de idéias, material e perspectivas. Parte do seu trabalho ainda está para ser publicado. Ele nunca considerou-se o fundador de uma teoria, nem gostava de ter “discípulos” seguindo suas pegadas, pois a essência da visão psicológica de Jung é a jornada individual na direção da unidade interna. Para ele, os indivíduos são levados por forças interiores na direção de um si mesmo superior (ao ego). Isso é chamado de Processo de Individuação. A unicidade de cada pessoa está em jogo nas escolhas de todos os dias. Como acontece aos heróis de sonhos, mitos, filmes e contos de fada, uma pessoa há de lutar contra obstáculos externos e internos que a aprisionam. Esta luta, como a da borboleta esforçando-se para sair do casulo, dá fôlego às suas asas.

O fim da história não pode ser contado em poucas linhas, até porque não há fim.

Deixo você com esta imagem. Você entra no consultório de Freud. Ele o faz deitar e senta-se onde você não pode vê-lo para, assim ele acredita, não interferir com o seu processo de abertura. Ele sobretudo ouve e deixa você falar. Daí, você vai ao consultório de Jung. Você encontrará duas confortáveis poltronas, uma de cara para a outra. Você e ele são duas pessoas lidando com os mistérios do inconsciente, o primeiro é experiente e ajuda o segundo a encontrar seu caminho. Naturalmente, a person alidade do analista está envolvida. Jung não acha de jeito nenhum que possa esconder-se de você. Ele aposta na honestidade e humildade. Para ele, ambas as pessoas estão numa jornada, ambas aprendendo, ambas descobrindo e ambas são influenciadas pelo mesma força: o cativante e inteligente inconsciente.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

"Antes que eu morra" combina psicanálise com romance policial - por Luciano Trigo


Pode-se dizer que um problema de audição foi o fato gerador de “Antes que eu morra”: durante o tratamento, o jornalista Luiz Erlanger passou a ouvir melhor a voz interior da imaginação e começou a escrever e acumular fragmentos ficcionais que, reunidos, deram vida ao seu primeiro romance. Ou não.

Pode-se dizer também que foram os dois anos de tardia formação psicanalítica, sem os quais não existiriam o psicanalista Bernardo Genuss nem o angustiado protagonista sem nome cujas aventuras ele registra e transcreve, ao longo de intermináveis sessões. Ou não. Ou, ainda, que foi o encontro alquímico da experiência de décadas de boa prática jornalística com um vasto repertório de citações a livros, filmes e músicas. Ou não. É difícil afirma categoricamente qualquer coisa sobre um texto que joga o tempo inteiro com a mentira e as armadilhas da representação.  O certo é que “Antes que eu morra” (Record, 320 pgs. R$ 40) surpreende pelas altas doses de violência e sexo, pela exposição sem filtros nem freios da vida interior do protagonista e da vida secreta do submundo  de Brasília, uma e outra marcadas pelo escândalo. Talvez seja este o tema do livro: a corrupção como fator estruturante do indivíduo e da sociedade em nosso país, como traço indissociável de nossa existência e formação. Ou não.

Por que a ficção, nessa altura da vida? 
LUIZ ERLANGER: O jornalismo, com os absurdos da realidade, sempre me foi satisfatório. Num processo que não sei explicar direito a origem, comecei a juntar textos ficcionais sem conexão. Não parti da ideia de escrever um romance.  Juntei uma pilha de textos que não se falavam entre si. Quando estava prestes a apagar tudo, vislumbrei que podia juntar este material numa história orgânica, um thriller. Meu grande desafio foi montar um frankenstein convincente.

O romance surgiu com dois insights. O primeiro com a sacada de que o thriller poderia ser a amarração. O segundo foi apostar na psicanálise como recurso para resolver a linguagem não-linear. O primeiro texto - sobre audição – é de 2009: Vendo meu primeiro texto e refletindo muito sobre esse processo, desconfio que a surdez que me acometeu o ouvido direito e seu tratamento me levaram a escutar além do mundo externo.

Você não seguiu um método? 
ERLANGER: Poderia arrumar um discurso mais glamuroso, mas a tônica foi o trabalho braçal para montar um grande quebra-cabeça. Foram anos acrescentando aqui, suprimindo ali, reescrevendo sem parar. Sempre em blocos descontinuados.

Até que ponto o romance é fruto da sua experiência como jornalista?
ERLANGER: Do ponto de vista da temática, quase nada, já que trabalhei em cima de clichês, há uma rara citação real. Mas foi fundamental como ferramenta. Tanto para conseguir reunir informações tão distintas – tive que apurar muito – assim como para ordená-las. O divertido é que muitas vezes essa trabalheira toda foi para deturpar, num jogo de charadas. Em muitos casos, juntei nomes de pessoas conhecidas e celebridades. Também como parte do jogo. Mas  não existe qualquer inspiração em figuras reais.

A psicanálise tem um papel importante na narrativa. Qual sua relação com a psicanálise e que relação você enxerga entre a psicanálise e a literatura? 
ERLANGER: Minha formação jornalística foi a cama para eu arrumar a história. Mas "Antes que eu morra" só existe graças à minha convivência superficial com a psicanálise – como convém a um repórter. Além de me consultar duas vezes por semana, fiz uns dois anos de formação psicanalítica. Depois que concebi o protagonista sem nome, o exercício psíquico meio que abriu a tampa para um abismo delirante, assim como me resolveu uma questão técnica – os pontos de corte numa narrativa que nasceu fragmentada. A psicanálise é o berço do inconsciente. Se a ficção é o suposto não real, o casamento é perfeito. Ao menos um flerte seria recomendado, diria este estreante.

Além de doses razoáveis de sexo, violência e uso de drogas, o romance tem passagens bastante “politicamente incorretas”.  Como os leitores têm reagido a isso?
ERLANGER: Com as portas abertas e protegido pelo protagonista, assumi o compromisso de não censurar nada que surgisse da cabeça dele. Mesmo as situações mais extremadas. Ainda não tenho como medir a reação do leitor. Mas tomei o cuidado de acertar com a editora a publicação de uma inédita e espontânea tarja de classificação indicativa etária. Também, beirando os 60, estava na hora de dar um salto mortal do trapézio, sem rede de proteção. Até aqui, tudo bem.

Mas você se sente de alguma maneira mais exposto?
ERLANGER: Como nunca! A vida todo trabalhei atrás do balcão, contado a história real dos outros e protegido pela pessoa jurídica do jornalista Erlanger. Só não estou tão mexido porque é um projeto sem maior pretensão: foi divertido escrever, espero que o leitor também se divirta lendo.

Quanto da Brasília real existe na Brasília ficcional do livro? É possível ultrapassar em criatividade a realidade da cidade em termos de corrupção, escândalos, histórias de alcova?
ERLANGER: O ambiente de poder que leva à promiscuidade com o patrimônio público e a fábrica de conluios estão presentes. Mas não se referem a um caso específico. Embora tenha sido uma farra enveredar pela ficção, ainda acho que não existe nada mais inimaginável do que o homem faz com a realidade.

O livro traz uma coleção impressionante de citações, abertas e veladas, a ponto de você agradecer no final a “participação especial” dos escritores, músicos, pensadores e cineastas citados. Qual o papel dessas referências na narrativa?
ERLANGER: De novo, uma resposta binária. Fazem parte de um jogo de esconde-esconde, cuja percepção ou não-percepção não interfere na leitura, e também são uma irreverência com um tipo de literatura que investe ao extremo na exploração de temas e conhecimentos.

O protagonista é cínico e moralmente ambíguo. Até que ponto ele reflete o cinismo e a flexibilidade moral da classe média brasileira?
ERLANGER: Pior: ele é uma espécie de Macunaíma que aponta para um impasse moral e ético muito além do Brasil. Um impasse da humanidade e, em especial, da sua chamada elite.

Que livros e autores influenciaram “Antes que eu morra”?
ERLANGER: É tanta influência – tanto as que já tinha, como as que fui coletar apenas para o livro – que ficou uma mistura de caleidoscópio com catavento. A metáfora que uso é que fui numa loja genérica de acessórios, comecei a viajar e só então montei o carro. Agora, os autores que mais passavam pela minha cabeça na verdade eram dois cientistas, Freud e Darwin. Quanto ao estilo, depois de pronto, identifiquei alguma semelhança com o falar despojado do Sérgio Porto – o Stanistaw Ponte Preta – um do meus autores preferidos na juventude.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Augustine e Charcot – a ciência e a mulher - por Luiz Zanin


Por um dessas particularidades do esforço humano de compreensão, Charcot acabou entrando na história das ideias a reboque de Freud. Compreende-se. Sigmund Freud, pai da psicanálise, acabou se tornando muito mais influente do que este médico francês com o qual foi estudar, ainda muito jovem, em Paris.

No entanto, Charcot tem uma posição inabalável na história da psiquiatria, em particular, no estudo dos distúrbios então chamados de histéricos. Ele as atendia no hospital parisiense La Salpêtrière, onde Freud estagiou no final do século 19. Foi lá, em contato com essas doentes, que os primeiros estalos a respeito do inconsciente e da cura psicanalítica vieram à mente de Freud.

Em Augustine, o papel principal é atribuído a uma histérica, vivida por Stéphanie Sokolinski. Vincent Lindon é Charcot e Chiara Mastroianni interpreta sua esposa, Constance. O ano é 1885 e Augustine, jovem provinciana que trabalha numa casa de família, luta para controlar seus ataques, que surgem sem que haja explicação aparente. É levada para tratamento com Charcot, que, dizem, traz métodos revolucionários para o tratamento desses males misteriosos. Entre outras novidades, faz uso da hipnose para aliviar os sintomas das doentes. Sim, “as” doentes, porque todas as acometidas por esses males de origem desconhecida são mulheres. Hysteron quer dizer útero.

O filme dirigido por Alice Wincour é então a história de uma cura? Nem tanto. Poderia ser melhor descrito como a história de uma tentativa de compreensão daquilo que não se conhece. Isso, por parte de Charcot. E, de uma “doença” misteriosa, causada, provavelmente, pela repressão muito forte da sexualidade.

Pois é isso que Charcot logo descobre, meio sem querer – os sintomas exibidos, a teatralização dessas queixas pelas histéricas encobre um significado sexual próximo do explícito. É o que Charcot vê, mas também não consegue enxergar porque é homem limitado por seu tempo e seu horizonte cultural como parte do corpo médico. De certo modo, o que ele não vê é o que será enxergado por seu discípulo mais famoso e que, exatamente por isso, dará um passo mais largo no conhecimento da mente humana.

Alice Wincour dirige esse drama do sofrimento psíquico com sobriedade. Às vezes até com certo peso, mas é essa atmosfera mesmo que associamos à sociedade burguesa e repressiva da Europa do século 19, época justamente em que a histeria faz sua aparição um tanto de través no mundo médico. Se para a medicina tradicional da época elas eram apenas fingidoras, para uma mente mais aguda, como a de Charcot, eram apenas doentes. E que, com sua doença, poderiam ensinar algo sobre a natureza humana. Inclusive que o desejo pode se manifestar sob a forma de dor e sofrimento, o que apenas em aparência seria uma contradição.